Atenção: o editorial a seguir contém spoilers das séries Avatar: a Lenda de Aang e A Lenda de Korra e dos livros A Ascensão de Kyoshi e A Escuridão de Kyoshi.
Como qualquer uma das grandes civilizações de Avatar, a história da Nação do Fogo caminha lado a lado com a história da dominação dos elementos, começando ainda na era da Raava, quando os humanos dependiam da proteção das Tartarugas-Leão e da capacidade delas de conceder a eles o domínio sobre algum elemento.
A Nação do Fogo tem um histórico bem forte de almejar o poder e o controle, coisa que chegou ao auge quando, com a finalidade de assegurar o fim da Era do Avatar, o Senhor do Fogo Sozin ordenou o genocídio dos nômades do ar. Como sabemos, o plano dele não atingiu todas as suas expectativas, mas a Guerra dos Cem Anos começou e nesse período, a Nação do Fogo teve avanços certeiros, tornando-se a soberana de diversos territórios, chegando a praticamente exterminar o poder da dominação de água na Tribo do Sul.
Apesar de esse ter sido seu ápice, o sistema de conquista e opressão da Nação do Fogo não é algo recente. Muito pelo contrário, ele já existia ainda quando os grupos humanos estavam divididos entre as Tartarugas Leão, e é inclusive um fator que influenciou diretamente na criação do Avatar.
Na comunidade de Wan, existia um sistema de extrema desigualdade, no qual ele e muitos de seus amigos passavam fome, enquanto a família Chou vivia com riqueza e fartura. Foi, inclusive, após um ato de rebeldia contra os Chou, que Wan foi expulso e passou por todas as experiências que resultaram nele se tornando o primeiro Avatar, sendo uma delas impedir que seus antigos amigos, inspirados por ele, queimassem e conquistassem o território dos espíritos.
Não se sabe como os Chou se tornaram tão poderosos e influentes, mas o fato é que, bem antes de serem abandonados pelas Tartarugas Leão, os antepassados da Nação do Fogo tinham uma cultura segregacionista, em que aqueles com recursos e poder exerciam controle total e rigoroso dos que não tinham nada, e, não muito depois, veio também o desejo de expansão e conquista.
Os mais pobres daquela comunidade sabiam exatamente como era ser oprimido e dominado, mas não hesitaram em fazer a mesma coisa com os espíritos quando receberam o poder do fogo. Aliás, o modo como eles consideravam os espíritos inferiores, mas ao mesmo tempo uma ameaça, é uma contradição que se mostrou bem forte na futura Nação do Fogo. Afinal, apesar de se considerarem os melhores do mundo, eles tomavam cuidados extremos para incapacitar aqueles que poderiam ser uma ameaça, como o Avatar e os dominadores de água.
Em sequência direta à revolução acidental que Wan começou entre a comunidade, o próximo evento determinante no progresso dela foi o fechamento dos portais entre os mundos físico e espiritual, de forma que os conflitos entre humanos e espíritos cessaram, mas as brigas entre humanos só pioraram.
O mundo como um todo estava na Era do Avatar, enquanto dominadores de fogo formavam grupos de humanos e se espalhavam pelo arquipélago ao oeste, no que viria a ser conhecido como as Ilhas de Fogo – um desses grupos, os icônicos e atemporais Guerreiros do Sol! Eles foram os principais responsáveis pelo desenvolvimento das técnicas da dominação de fogo através da observação dos dragões, os dominadores originais. Apesar de eventualmente terem se escondido do resto do mundo por causa de todo o conflito, os Guerreiros do Sol foram capazes de preservar sua cultura por gerações, e até mesmo o restante das ilhas de Fogo agregou muito de seu legado cultural e arquitetônico; mesmo acreditando que eles estavam mortos, Zuko buscou os vestígios deles pra aprimorar sua dominação de fogo e poder ser mestre de Aang.
O restante das Ilhas de Fogo vivia em conflitos constantes, sendo cada uma controlada por um Senhor da Guerra cruel e ditador até que um homem assumiu o controle de tudo e uniu as Ilhas de Fogo em um sistema unificado, tornando-se o primeiro Senhor do Fogo. Por algum tempo, alguns Senhores da Guerra ainda tinham poder sobre suas respectivas regiões, e as famílias deles se tornaram os clãs nobres quando, eventualmente, o Senhor do fogo tomou todo o poder pra ele, fazendo de si e sua família os autocratas da Nação do Fogo.
A Nação do Fogo continuou tendo uma série de conflitos internos, tanto políticos quanto bélicos, mas com as intervenções marcantes de Avatares como Szeto e Yangchen, o país alcançou uma certa estabilidade, que foi fator crucial pra sobreviver ao que viria depois: a infidelidade.
No período de Avatar Kuruk e um pouco depois de sua morte, o Senhor do Fogo Chaeryu teve um reinado relativamente próspero, mas plantou uma semente de discórdia ao ter dois filhos, cada um com uma mulher: o mais velho ilegítimo, Chaejin, e o mais novo, herdeiro legítimo, Zoryu.
Foi nesse mesmo período que começou a elitização da dobra de raios, quando a liderança da Nação do Fogo fez um acordo com um influente do Reino da Terra para poder estudar um rebelde que tinha a capacidade de gerar eletricidade, de forma que eles desenvolveram as técnicas e a preservaram como um segredo de alto escalão.
O Senhor do Fogo Chaeryu morreu, passando o trono para Zoryu, e era meio óbvio que, sendo o mais velho, Chaejin não ficou feliz por ser privado de suas heranças. A mãe dele, Huazo, era super politizada e fortaleceu seu clã, enquanto o filho ganhava apoio entre os Sábios do Fogo.
O atrito crescente entre os meio-irmãos foi chamado de A Guerra da Camélia-pônia, que se deu ao mesmo tempo em que as colheitas e pescaria entrariam em declínio. Ou seja, além de instabilidade política, a Nação do fogo entrou num período de pobreza por boa parte de suas terras. A estabilidade interna anterior morreu completamente, mas mesmo assim o reinado de Zoryu se manteve forte e a Nação do Fogo permaneceu se envolvendo em questões internacionais. Eventualmente, Zoryu armou um esquema pra condenar a oposição cada vez mais forte do clã de seu irmão e executar o clã inteiro, mas a recém revelada Avatar Kyoshi o obrigou a poupá-los.
Apesar de ter poupado o irmão, Zoryu venceu o conflito e o tomou como uma lição de que os clãs nobres tinham poder demais, o que o instigou a implantar um plano em que os Senhores do Fogo seguintes iriam minar aos poucos a influência deles e tornar a família real absoluta. Deu certo e, em dado momento, a Família Real era incontestável dentro da Nação do fogo e também estava em ótimas condições mundo afora.
As Tribos da Água e os monges do ar tinham culturas bastante tradicionalistas, e o Reino da Terra estava lidando com a Guerra de Chin, o Conquistador. Enquanto os outros povos preservavam seus costumes ou sofriam com ditadores – como no caso do Reino da Terra – a Nação do Fogo atingia, finalmente, alguma paz interior duradoura, e passava por uma revolução industrial, se tornando a mais tecnologicamente avançada das grandes nações.
Foi justamente nesse período de progresso que Kyoshi faleceu aos 230 anos, reencarnando como Avatar Roku, que viria a ser bem íntimo daquele que se tornou o Senhor do Fogo de sua geração, Sozin.
Enquanto o Roku assumiu o papel de ser um precursor de paz e equilíbrio no mundo, Sozin acreditava que o estilo de vida de seu povo era um pináculo cultural que deveria ser disseminado e adotado por todo o mundo, que se submeteria à vontade e domínio dele.
A autocracia de Sozin foi marcada por investimento pesado em exploração e desenvolvimento militar, que foi utilizado para colonizar partes do Reino da Terra, que ainda não haviam se recuperado totalmente da Guerra de Chin, e transformá-las em polos industriais. Avatar Roku, não vendo alternativa, confrontou o Senhor do Fogo e determinou que ele teria de cessar as tomadas de terra e seus delírios de conquista, mas permitiu que os colonizadores permanecessem no Reino da Terra.
Essa intervenção deixou o Sozin completamente revoltado, e assim que aquele que viria a ser o cometa de Sozin veio, ele utilizou sua energia para fortalecer seu exército e ordenar o Genocídio dos Nômades do Ar, esperando que, dessa forma, não houvesse um Avatar; plano falho. Sozin e seus herdeiros dominaram a maior parte do Reino da Terra e a Tribo da Água do Sul.
Vale ressaltar que a ascensão da Nação do Fogo não foi ruim apenas para o resto do mundo, mas também para ela mesma. Os dragões, animais sagrados da Nação do Fogo, foram praticamente extintos, marcos históricos e culturais foram escondidos e censurados dos livros de história, doutrinando a população e a fazendo acreditar que as ações deles eram essenciais e apreciadas pelo resto do mundo. Houve também grande deturpação nas tradições, transformando o Agni Kai em uma batalha brutal e criando um ideal de honra tão forte que, aos olhos do povo, era não só normal como também justo que um homem marcasse o rosto do próprio filho com uma cicatriz e em seguida o exilasse de sua terra.
Os avanços da Nação do Fogo cresciam em escala assustadora ao ponto que, sem a interferência direta do Avatar e seus aliados, os últimos polos de resistência à Nação do Fogo caíriam, com Zhao conquistando a Tribo da Água do Norte e Azula derrubando os muros de Ba Sing Se.
Felizmente, os esforços da equipe Avatar deram frutos. O Rei Fênix Ozai e a Senhora do Fogo Azula foram derrotados e a Guerra dos Cem Anos acabou. A derrota da Nação do Fogo e a boa vontade do novo Senhor do Fogo não apagariam as marcas de cem anos de guerra. Havia ainda forte desconfiança entre as antigas colônias, que contavam com fundamentos bem fortes para isso, considerando que muitos da Nação do Fogo eram a favor dos ideais de Ozai e não estavam felizes com a regência de Zuko.
Como uma de suas tentativas para resolver a crise causada pelo processo de descolonização, Zuko, Aang e o Rei da Terra Kuei deram início a um processo em que parte das colônias não seriam devolvidas ao Reino da Terra, nem mantidas como colônias da Nação do Fogo, e sim transformadas em algo novo, que simbolizasse o fim do imperialismo de Ozai e permitisse que os membros da Nação do Fogo que se estabeleceram ali permanecessem em suas novas casas – o Movimento de Restauração da Harmonia. Eventualmente, nasceu a República Unida das Nações.
Os esforços do Zuko deram frutos, e as nações entraram em paz umas com as outras. Paz o bastante para que, no ano 167 DG*, ele abrisse mão do trono e confiasse a regência à sua filha Izumi, que ainda hoje mantém uma política estrita de não violência, opondo-se o máximo possível de se envolver em conflitos de outros países.
*DG = Depois do Genocídio